Diabetes tipo 2 - Controle do diabetes

Diabetes: Todo Cuidado é Pouco

Conheça o diabetes tipo 2: breve história, fisiologia, estratégias de controle e cuidados cruciais. Enfrente a condição com conhecimento e ação.
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Você sabia que o diabetes tipo 2, urina doce, é uma doença cônica e que pode ser controlado de maneira eficaz? Aqui, vamos conhecer um pouco da sua história, fisiologia, estratégias de controle, suas complicações e os cuidados essenciais para quem já convive com o diabetes.

Uma Jornada Histórica de Milênios

Raízes Antigas e “Urina Doce” na China

A história do diabetes tipo 2 permeia com a antiga civilização chinesa, remontando a 2.500 a.C. Naquela época, uma condição peculiar começou a atrair a atenção dos curiosos observadores de saúde.

Era uma condição caracterizada por uma manifestação intrigante: a “urina doce“.

Os registros históricos da China Antiga descrevem que alguns pacientes apresentavam urina adocicada, como característica de uma doença que não se tinha compreensão, conferindo o nome de “urina doce“.

Essa designação, embora simplista, captura a essência da observação feita pelos práticos da época.

A medicina do período, repleta de simbolismos e interpretações místicas, apenas identificou superficialmente uma condição complexa. A associação entre a doçura da urina e a presença de açúcar no organismo era um mistério não decifrado.

Essa falta de compreensão durou séculos, destacando a natureza desafiadora do diabetes.

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A Descoberta Revolucionária de Langerhans (Século XIX)

No século XIX ocorreram inúmeros estudos médicos que dariam suporte ao entendimento e ao tratamento de uma variedade de condições, incluindo o diabetes tipo 1 (nessa doença o paciente não produz a insulina).

Nesse contexto, o médico alemão Paul Langerhans identificou que a insulina é produzida por um órgão localizado no abdome humano, o pâncreas, identificando pequenas regiões nesse órgão que produziam células especiais, conhecida atualmente com as ilhotas de Langerhans.

A conexão entre as ilhotas de Langerhans e o diabetes tipo 1 começou a se desenhar. O pesquisador percebeu que essas células especiais produziam um hormônio vital para o controle da glicose, mais tarde denominado insulina.

Essa percepção lançou as bases para uma compreensão mais profunda das complexidades do diabetes tipo 1. Sendo o catalisador para avanços significativos no seu tratamento, assim, começando a explorar formas de suplementar ou substituir esse hormônio crucial nesses pacientes.

A Era dos Medicamentos (Década de 1950)

Enquanto o diabetes tipo 1 avançava em termos de tratamento, o diabetes tipo 2 somente no século XX, especificamente na década de 1950, teve os primeiros medicamentos destinados ao seu combate.

Nesse período foi marcada uma distinção clara entre os tratamentos destinados ao diabetes tipo 1 e tipo 2. O primeiro focava na reposição de insulina devido à destruição das células produtoras, o segundo demandava uma abordagem mais abrangente.

Os primeiros medicamentos formulados para combater o diabetes tipo 2, representaram um avanço na farmacologia e melhoria na qualidade de vida para milhões de pessoas afetadas.

Esses fármacos tinham mecanismos de ação que visavam interferir nas alterações fisiológicas presentes na doença, com objetivo de restabelecer o equilíbrio glicêmico, o que melhorava a qualidade de vida dos pacientes.

Esses medicamentos não substituíram, mas complementaram as mudanças no estilo de vida preconizadas no controle do diabetes tipo 2. Essa abordagem integrada foi uma evolução no tratamento holística, que reconheceu a importância da farmacologia associada a práticas e comportamentos saudáveis.

Por que ocorre o Diabetes Tipo 2?

A fisiologia dessa doença é explicada pela resistência periférica à insulina produzida pelo próprio indivíduo e pela deficiência na produção da insulina.

1. Resistência à Insulina: Quando as Células Perdem a Sintonia

No diabetes tipo 2, as células do corpo desenvolvem uma resistência à insulina, resultando na necessidade de produção excessiva desse hormônio para obter os efeitos desejados.

O que a insulina faz?

A insulina tem várias funções, destacando-se em facilitar a entrada de glicose (açúcar) nas células do corpo, ou seja, retira a glicose do sangue e coloca no interior da células para serem usadas no metabolismo celular.

O que acontece se a glicose não entrar na célula?

Ocorre um acúmulo de glicose no sangue, conhecida como hiperglicemia, trazendo várias complicações ao organismo. Em síntese, o aumento de glicose sanguínea é a diabetes ou até mesmo outras doenças que serão tratadas no artigo (Hiperglicemia: Cetoacidose Diabética e Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar).

O que é Resistência à Insulina?

É uma condição em que as células do corpo não respondem à insulina endógena ou exógena da maneira correta. As células perdem a eficiência de fazer a glicose sair do sangue e entrar nas células, que acumula a glicose no sangue.

Por que ocorre a Resistência à Insulina?

É um processo gradual e insidioso, muitas vezes silencioso, sendo um fenômeno complexo que envolve uma interação entre fatores, entre eles: histórico familiar (genética), obesidade e acúmulo de gordura visceral, estilo de vida sedentário, inflamação crônica entre outros. Trataremos com mais detalhes em outro artigo (Resistência à Insulina: Diabetes Silenciosa).

Qual a Resposta do Corpo a Resistência à Insulina?

O pâncreas começa a produzir muita insulina como resposta, para tentar manter os níveis de glicose sanguínea normais (homeostase). Aumentando os níveis de insulina no sangue.

Qual o Problema de Aumentar a Insulina no Sangue?

O níveis elevados de insulina sanguíneo, pode causar uma série de problemas, incluindo ganho de peso, aumento da pressão arterial e aumento do risco de doenças cardíacas.

Vamos nos aprofundar um pouco mais – Sinalização de Insulina

No estado de jejum, o fígado secreta glicose no sangue para manter a euglicemia e fornecer combustível para os tecidos que consomem glicose. Este processo é chamado de produção hepática de glicose e envolve a quebra do glicogênio hepático (glicogenólise) e a síntese de glicose (gliconeogênese) usando ácidos graxos e glicerol derivados de tecidos adiposos.

Após a ingestão de alimentos, a insulina secretada pelas células β pancreáticas promove o anabolismo (síntese) e suprime o catabolismo (quebra). Durante o metabolismo da glicose, a insulina estimula vários tecidos consumidores de glicose, como músculo esquelético e tecido adiposo, a absorver glicose e, em seguida, promove a síntese de glicogênio e lipídios no fígado, músculo esquelético e tecido adiposo.

Além disso, a insulina suprime produção hepática de glicose ao inibir as expressões de genes gliconeogênicos e lipólise no tecido adiposo. A insulina também suprime a secreção de glucagon das células α pancreáticas e reduz o apetite através do sistema nervoso central. 

As funções intracelulares da insulina são mediadas pelo receptor de insulina tirosina quinase (proteína da celular), conforme ilustração abaixo. Quando a insulina se liga ao domínio extracelular dessa proteína tirosina quinase, ela induz uma mudança conformacional que resulta na autofosforilação dos resíduos dessa proteína e na subsequente ativação de um sequência de proteínas no interior da célula.

Essa cascata de reações intracelular ativa vários substratos em tecidos do músculo esquelético, do fígado e do tecido adiposo, que provocam reserva de nutrientes induzida pela insulina.

Mecanismo muito complexo, mas, percebe-se que a insulina é fundamental nesse processo e quando ocorre uma resistência à insulina, essa sequência de ativação de proteínas não ocorre satisfatoriamente, assim não ocorre a entrada da glicose na célula, trazendo inúmeras complicações e impactos na homeostase.

Adaptação de:
Diabetes Metab J, 2022 Jan; 46(1): 15–37

2. Deficiência de Insulina: O Papel Crucial do Pâncreas

À medida que a doença avança, o pâncreas pode não produzir insulina em quantidade suficiente para controlar os níveis de glicose no sangue.

Essa deficiência em sua produção associada a resistência à insulina acentua a dificuldade do organismo em manter a glicemia dentro de limites saudáveis.

Tudo isso faz as células do corpo não conseguirem absorver a glicose para seu interior, levando a níveis elevados de açúcar circulante no sangue.

O pâncreas, em sua batalha constante para equilibrar a glicemia, enfrenta uma pressão crescente para compensar essa insuficiência hormonal.

Dessa forma, o diabetes tipo 2 em estágios avançados necessita de administração de insulina exógena para compensar essa insuficiência pancreática.

Estratégias de Controle do Diabetes Tipo 2: Além dos Medicamentos

Controle Não Farmacológico: Transformando Estilos de Vida

O primeiro passo no tratamento do diabetes tipo 2 é o controle não farmacológico, que enfatiza mudanças no estilo de vida. Perder peso, mesmo moderadamente, pode trazer benefícios significativos, melhorando a eficácia do tratamento.

Atividade Física: O Aliado Poderoso na Jornada contra o Diabetes

A atividade física regular é uma aliada fundamental, reduzindo os níveis de glicose no sangue e aumentando a sensibilidade à insulina. Uma rotina de exercícios bem estruturada torna-se um escudo protetor contra os desafios do diabetes.

Alimentação Saudável: O Combustível para um Corpo Balanceado

Uma alimentação saudável, rica em frutas, vegetais e grãos integrais, desempenha um papel crucial no controle da glicose. Escolhas alimentares conscientes são uma arma poderosa na batalha contra o diabetes tipo 2. Veja mais em Nutrição Saudável: Reforce sua Imunidade.

Complicações do Diabetes

Doença Cardíaca: O Alerta Vermelho

O diabetes tipo 2 eleva consideravelmente o risco de doença cardíaca, incluindo infarto e derrame. O controle rigoroso torna-se vital para mitigar esses perigos, reforçando a importância do acompanhamento médico regular.

Complicações Viscerais: A Ameaça Silenciosa aos Rins e Olhos

A condição aumenta o risco de doença renal e ocular, podendo levar a insuficiência renal e cegueira. Monitoramento constante e intervenções oportunas são cruciais para proteger esses órgãos vitais.

Saúde Bucal: O Diabetes e Suas Ramificações Dentárias

O diabetes tipo 2 também influencia a saúde bucal, contribuindo para o aumento do risco de doenças dentárias como gengivite e periodontite. Cuidados dentários regulares são parte integrante da gestão global do diabetes.

Cuidados Cruciais para Enfrentar o Diabetes

A Jornada daqueles que já Convivem com o Diabetes

Para quem já tem diabetes tipo 2, a adesão rigorosa às recomendações médicas é imperativa. Isso envolve:

  • Tomar os medicamentos conforme prescrito.
  • Realizar exames regulares para monitorar os níveis de glicose no sangue.
  • Adotar uma dieta saudável e praticar atividade física regularmente.

Prevenção e Controle

Para aqueles buscando prevenir o diabetes tipo 2, a abordagem é proativa:

  • Manter um peso saudável:
  • O excesso de peso é um fator de risco significativo para o diabetes tipo 2.
  • Ser fisicamente ativo:
  • A atividade física regular reduz o risco da condição.
  • Adotar uma dieta saudável:
  • Uma dieta rica em frutas, vegetais e grãos integrais ajuda a prevenir o diabetes tipo 2.

Desafios e Esperança nessa Jornada

O diabetes tipo 2, embora desafiador, não é uma sentença de incapacidade. Com um controle rigoroso, mudanças de estilo de vida e avanços medicamentosos, é possível gerenciar eficazmente a condição.

A prevenção continua sendo uma ferramenta poderosa, destacando a importância de escolhas conscientes e cuidados regulares.

Enfrente o diabetes tipo 2 com determinação, sabedoria e a parceria essencial de profissionais de saúde.


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Dr. Waldir Will

Dr. Waldir Will

Médico - Unicamp

Artigos: 32

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